Quando me mudei para o Brasil em 2002, transferir dinheiro ainda era uma tarefa difícil. Às vezes, eu ficava horas na fila do banco, recebia carimbos elegantes em formulários de simpáticos funcionários do banco e tinha que torcer para que a quantia realmente chegasse em algum lugar no dia seguinte. Pagar digitalmente? Isso era coisa para um futuro distante. Os brasileiros ainda não estavam pensando nisso.

E ainda assim... hoje, mais de 20 anos depois, eu pago o veterinário que vacina nossos gatos com um simples clique em meu smartphone. Nada de passes, dinheiro ou tempo de espera. Basta escanear o código QR e pronto. Bem-vindo à era do PIX.

Afinal, o que é PIX?

O PIX é um sistema de pagamento digital lançado pelo Banco Central do Brasil em 2020. É muito simples: você vincula sua conta bancária a uma chave - que pode ser um endereço de e-mail, um número de telefone ou algum tipo de número semelhante ao IBAN - e, a partir daí, pode receber ou transferir dinheiro gratuitamente 24 horas por dia, 7 dias por semana. Em segundos. Sem taxas, sem complicações.

Agora eu o uso em todos os lugares: para pagar o jardineiro, para enviar dinheiro aos amigos, para comprar um sabonete artesanal em um mercado de domingo. Hoje em dia, até mesmo os vendedores ambulantes têm a chave do PIX escrita em um cartão, muitas vezes à mão. O Brasil, antes conhecido por sua burocracia, de repente se tornou um dos países mais modernos do mundo quando se trata de pagamentos.

Inclusão financeira à moda brasileira

O que mais me impressiona no PIX não é apenas a conveniência, mas, principalmente, o que ele significa para as pessoas comuns. Nas periferias das grandes cidades, nas áreas rurais, entre os jovens e os idosos, o PIX deu às pessoas acesso a um sistema que antes era inacessível. Antes, era preciso ir a um banco físico, onde muitas vezes você não era bem-vindo sem um emprego estável ou comprovante de renda. Agora é possível receber e enviar dinheiro com um simples aplicativo. Assim, milhões de brasileiros se tornaram "bancáveis" de uma só vez. O PIX também viu o surgimento de fintechs como o Nubank e o Inter accelerated. Esses bancos sem agências atraem principalmente os jovens e os autônomos. 

Mas então por que os EUA estão nervosos?

O que descobri apenas mais tarde é que, fora do Brasil, o PIX está sendo visto com olhos muito diferentes. Enquanto isso, nos Estados Unidos, ouvem-se ruídos preocupantes. Não porque o PIX seria inseguro, mas porque ele representa algo mais profundo: independência financeira. Porque, convenhamos: os pagamentos globais são amplamente baseados na infraestrutura dos EUA - pense em Visa, Mastercard, PayPal e, principalmente, no dólar americano como moeda padrão. O PIX mostra que as coisas podem ser feitas de forma diferente. E é aí que está o ponto fraco.

A influência dos EUA nos pagamentos globais não é apenas econômica, mas também política. Quem possui a infraestrutura tem poder. O Brasil está demonstrando com o PIX que um país pode construir algo por si mesmo - de forma rápida, barata e sem a interferência de agentes estrangeiros.

Redes Sul-Sul em formação?

O que é ainda mais empolgante: o Brasil não está sozinho. O banco central está agora trabalhando em ligações entre o PIX e sistemas semelhantes na Índia (UPI), Colômbia e até mesmo na Argentina. Imagine uma rede de pagamentos diretos entre os países do Hemisfério Sul, fora do sistema ocidental. Então não estaremos mais falando apenas de tecnologia, mas de geopolítica.

Acho isso fascinante. O Brasil, que antes dependia principalmente do Ocidente, agora está dando o tom com um sistema de pagamento caseiro que está atraindo a atenção mundial - e até mesmo a irritação de Washington.

Um código QR como símbolo de progresso

Para mim, o PIX é mais do que um aplicativo conveniente. É uma revolução silenciosa, uma forma de democratização do dinheiro. E, em algum lugar, também um símbolo do que o Brasil pode ser se levar a sério: criativo, pragmático, inclusivo.

Por isso, sorrio toda vez que vejo mais um desses códigos QR copiados pendurados em uma barraca de madeira de um mercado na Bahia ou em São Paulo. Porque por trás desse código há uma história de inovação - e talvez até um pouco de política global.

Criei as imagens desta postagem com Meio da jornada e Leonardo AI.